terça-feira, 27 de setembro de 2011

Balanço da greve nas universidades



Mesmo sem ganhos econômicos saímos fortalecidos da greve.

A greve chega ao fim depois de 110 dias parados. Desta vez, a exemplo do que ocorrido nas greves dos anos 1995, 1998, 2000 e 2003, esta luta se encerra sem ganhos econômicos, mas com um profundo aprendizado de experiências e ações que permitiram a nós servidores públicos desmascarar a política de arrocho e de desmonte do serviço público do governo Dilma (PT/PMDB) e de seus aliados da direção majoritária da Fasubra (Tribo e CSD/CUT e CTB).
Neste sentido, o balanço da greve é extremamente importante e necessário, visto que desta vez a Fasubra esteve dividida, entre os que apostaram na mobilização e na greve para arrancar nossa pauta e naqueles que militaram contra a greve para defender com unhas e dentes “seu” governo corrupto e neoliberal.

Por que a greve não conseguiu arrancar o reajuste salarial?

A direção majoritária da Federação tem feito o balanço de que erramos ao entrar em greve e que todas as categorias que apostaram nas negociações saíram com alguma coisa. Mas os fatos nos dão a razão: quando iniciamos nossa greve foi justamente após as dezenas de reuniões de constantes enrolações com o governo, sem que nenhuma proposta concreta fosse apresentada, e o pior, estavam começando a tramitar os projetos de privatização dos HU’s e de congelamento por 10 anos dos salários dos servidores, entre outros.
Entramos em greve justamente no momento de maior crise e questionamento do governo Dilma (PT/PMDB). Quando pipocavam no país inteiro as lutas da construção civil, dos bombeiros do RJ, dos professores da rede estadual, entre outras categorias.
Num momento em que os escândalos de corrupção começavam a soltar aos nossos olhos e deixar a população indignada, com os milhões de dinheiros públicos desviados para os interesses privados de Ministros e de assessores. Num momento que avançava o desgaste do governo com o código florestal, com a queda do principal ministro (Palocci), ficando mais evidente a população que para garantir direitos trabalhistas e sociais, as categorias teriam que se levantar com muita força como fizeram os peões da construção civil que incendiaram canteiros de obras e bombeiros que enfrentaram o regime militar e as balas do Bope. Entramos em greve na hora certa.
Num momento em que a conjuntura internacional, começava a soprar os ventos no Brasil. Por um lado os EUA amargando a pior crise econômica de sua história alcançando a cifra recorde de 46,2 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza em 2010. Por outro uma resposta a altura dos povos em todo o mundo, com greves e mobilizações. Tendo na luta do povo árabe o maior protagonismo transformando-se no exemplo de luta, radicalização e coragem para todo o mundo.
Tínhamos tudo para fazermos uma greve unificada de todo serviço público. Organizamos cinco marchas unitárias mostrando a disposição de enfrentamento dos servidores. No entanto, a direção da CONDSEF, também dirigida pela CUT, não apostou na unidade e no enfrentamento, porém isso se esperava. Mas  nem o ANDES (CSP/Conlutas) apostou em construí-la. O pouco que estas entidades ganharam foi justamente diante da ameaça de greve do funcionalismo público.
A política do governo foi clara, nos dividir e dar alguns pequeníssimos ganhos para impedir a greve unificada de todo os SPF’s. Assim a direção da Condsef ligada ao governo desmontou sua greve e a esquerda também vacilou, ao não entrar em greve no primeiro semestre optando em negociar esmolas em agosto. Assim se perdeu a oportunidade de construir uma forte greve unificada de todo o serviço público.

O papel nefasto da Direção majoritária da Fasubra

Milhares de servidores no país inteiros viram que é preciso construir uma nova direção para a federação. O papel dos setores governistas da direção da Fasubra (CUT , CTB), foi empenhar desde o início todos os esforços para impedir o desenvolvimento da greve. Tentaram o “golpe” no CNG apontando a saída da greve, sem que nenhuma base tenham apresentado tal proposta. Mas a força da base desmontou todas as manobras executadas por esta direção. Mesmo assim, muitas  entidades de base dirigidas pela CUT/CTB desrespeitaram a decisão democrática da maioria dos servidores e boicotaram a greve, retirando-se do movimento, ajudando a política do governo.
A categoria realizou uma luta heróica. Destaque para os colegas em estágio probatório e os jovens que se incorporaram recentemente a categoria que lutaram com firmeza e não titubearam diante dos “velhos” dirigentes burocratizados. Assim foi na UFRJ, UFPR, APTAFURG e tantas outras. No caso da UFRJ, a direção do sindicato (CUT) foi um entrave para organização da greve, chegaram ao absurdo de boicotar as atividades, não garantindo se quer carro de som nos atos e inventando reunião da diretoria na hora das ações de rua, etc
Um das lições da greve é para se obter conquistas é necessário termos a frente das entidades dirigentes comprometidos com a luta da categoria e não do governo.
Governo Dilma (PT/PMDB) judicializa a greve das Universidades.
Não conseguindo derrotar a greve com seus aliados sindicais, o governo Dilma (PT/PMDB), entrou na justiça para proibir a greve, exigir que 70% voltasse ao trabalho. Estranhamente esta ação não se referiu a maioria das entidades que a tribo (CUT) dirige. Mas isso não foi suficiente para derrotar a greve. Junto com essa ação, alguns reitores conseguiram liminar pra proibir piquete. Ou seja, uma artilharia contra a greve.

Perdeu-se a oportunidade de se organizar uma GREVE unificada de toda a Educação Federal.

Em nosso ponto de vista se perdeu uma grande oportunidade de fazer uma greve unificada de toda a educação federal superior, conjunta da Fasubra, Sinasefe e do Andes. O Sinasefe entrou em greve dois meses após a nossa deflagração, já o Andes não apostou na greve e mobilização, visto que desde o inicio, em nome de uma suposta “desmobilização” das bases apostaram na negociação com o governo, sem apontar nenhuma perspectiva de um movimento unificado. Ambas entidades dirigidas pela CSP/Conlutas não assimilaram esta tarefa como primordial. Justamente em um momento aonde podíamos ter unificado também com os estudantes, que mostraram muita disposição de luta e enfrentamento, a exemplo das ocupações das reitorias, que na maioria arrancaram vitórias, destacando a UFF e UFPR.
A não compreensão da importância e a força que adquiriria uma luta conjunta frente a um governo intransigente deixou a nossa greve isolada e com muitos problemas. A greve do Sinasefe também está sendo prejudicada, visto que o acordo assinado do Andes com governo é estendido também a base dos professores das Escolas e Institutos Técnicos Federais. Estava claro que a intenção do governo era impedir uma greve unificada, lamentavelmente os valorosos companheiros do Andes acabaram caindo nessa armadilha.

Faltaram mais ações radicalizadas. Acabou o tempo de greve pacifica para sensibilizar o governo!

O papel cumprido pela esquerda durante toda a greve deve ser destacado, porém devemos além de destacar nossos acertos também apontarmos nossos erros. Nós da UNIDOS PRA LUTAR, somos uma tendência sindical nacional, que na Fasubra, compomos a frente BASE e estamos tirar as melhores lições políticas deste rico processo de lutas, pois outras enfrentaremos em breve.
Somente este ano, podemos lembrar as diversas ocupações de reitorias, pois onde houve esta ação com muita força, se conquistou a maioria das reivindicações. Na UFF foi a ocupação da reitoria que possibilitou o atendimento a grande parte da pauta estudantil, incluindo o fim dos cursos pagos na especialização e uma audiência com o sindicato e o Comando Local de Greve, aonde conseguimos arrancar a devolução do adicional de insalubridade, e outros itens. No UFPR foi a ocupação da reitoria que marcou o ápice da greve radicalizada, obrigando o reitor ceder as 30 horas de trabalhos. 
Em Brasília, foi a ocupação do auditório Nereu Ramos, que garantiu a anistia criminal aos 429 bombeiros. E quando ocorreu a marcha do dia 24, somente o MST teve a atitude de ocupar o ministério da fazenda e conseguiu negociar recursos pra assentamento. Somente com a ação dos operários queimando canteiros de obras em Jirau e Sto Antônio, as empresas cederam as várias demandas.
Neste sentido categoria e as lideranças de esquerda devem se preparar a partir das oportunidades que perdemos de radicalização. Não só não apontamos pra uma ação mais forte no acampamento, na marcha e não tivemos uma linha nacional de ocupações da reitoria, como ocorreu sem uma sintonia no calendário. Não podemos esperar dois meses pra começar a debater radicalização. Os governos não podemos nos ignorar. Devemos dar os prazos pra receber pacificamente, e depois apontar as ações radicalizadas. Não nos serve apenas votar a greve nas assembléias, parar parte dos trabalhos ou fazer caminhadas nas ruas acreditando na sensibilidade do governo. Cada servidor tem que ser convencido que apenas suspendemos a greve, reorganizar o batalhão, transformar nossa indignação em ações.
 Nossa atuação desde o inicio foi o de buscar a unidade com todos que estavam dispostos a enfrentar o governo nacional e fortalecer a luta de nossa categoria e de outras pelos estados. Mas nunca titubeamos em denunciar os governistas na Fasubra. Por isso estivemos com força no acampamento de 09,10 e 11 de agosto, com companheiros de outras categorias que ajudaram a fortalecer nossa greve, apostamos numa atividade com os bombeiros, professores estaduais, estudantes da universidade e demais categorias. E esta é outra lição, cada militante deve interagir mais com outras categorias, pois a luta unificada não se perder em discursos e sim em iniciativas. Lembremos que nem mesmo na esquerda, se tinha acordo em realizar esta atividade, dirigentes do PS Livre diziam que era uma briga entre a Unidos e a CSP/Conlutas, enquanto a própria CSP era contra a Marcha, por isso somente os da categoria acamparam, demais setores da Conlutas estiveram ausentes da Marcha, nem se quer o Andes, o Sinasefe e ANEL foram para saudar a atividade. Além disso, a própria Marcha do dia 24/08, que todos nos participamos não esteve a serviço de fortalecer as únicas duas greves do serviço público nacional, a da Fasubra e do Sinasefe, cobrando que fôssemos atendidos.
Hoje todos os setores reivindicam que foi correto fazermos a Marcha e o acampamento, que mostrou a força de nosso movimento. Em nossa avaliação poderíamos ter apostado em uma ação mais radicalizada, pois a base tinha toda a disposição, e esta é a única maneira de arrancarmos nossas conquistas.
Outro erro de parte da esquerda foi ser contra em levar mais servidores na marcha do dia 13/9 contra o PL 1749. A nossa obrigação era se empenhar em todo ato nacional, e usar todos os recursos da Fasubra para custear as entidades que estavam dispostas a participar do ato. Deixamos pela primeira vez a burocracia foi maioria num ato nacional. Mesmo assim com 600 pessoas se impediu na marra as votações nas comissões.
Em relação aos companheiros do Vamos a Luta, que a nível nacional estão conosco na oposição da Fasubra, pelos estados se contradizem com a linha nacional. Na UFRJ estão juntos com a CUT boicotando as ações de nossa greve, e assessoram o reitor da Universidade, assim vem fazendo estas alianças e práticas na UNIFESP, UFF, etc...
Estes vacilos devem ser corrigidos o quanto antes, visto que cresce a necessidade de unificarmos todas as nossas forças para derrotarmos os governistas na Fasubra. E os que se postulam alternativa devem agir em sintonia com as aspirações e necessidades da categoria.
Pois a greve permitiu avançar na conscientização acerca da importância da luta e da radicalização como única via para obter reivindicações e na necessidade de construir uma nova direção independente dos interesses do governo, que represente a categoria de forma democrática respeitando suas decisões e interesses.

Com o triunfo político da GREVE se abre a possibilidade de continuar a luta contra o ajuste do governo e construir uma nova direção para a Fasubra.

O funcionalismo lutou muito. No calor desta luta compreendeu que deve continuar apostando na luta para barrar a política de Dilma e para mudar a direção da Fasubra e dos sindicatos que atendem as demandas do governo e não da categoria. Esta é a grande lição que devemos ter da nossa greve.
No dia 20/09 foi aprovada o PL privatiza os HU´s; o PL 1992 que institui, Previdência Privada, e o famigerado 248/98 que demitirá servidor público andam de forma acelerada. Ou seja, além do corte brutal dos gastos sociais; arrocho salarial e não ceder às negociações de nossa greve, o governo pretende aprovar muitos mais projetos danosos a nossa vida de servidor público. Então, a greve foi apenas suspensa, a mobilização tem que se ampliar.
É urgente construir uma nova direção independente dos governos, conseqüente em sua luta e programa, que represente democraticamente o interesse da classe trabalhadora. Neste caminho, estamos UNIDOS, por uma nova direção para a federação. Devemos exigir o congresso imediato da Fasubra, ainda para 2011, pois ele deve refletir a grande luta que a categoria travou.